sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

nós, os de alma tatuada & um dia qualquer na casa de doc





cb tá indo pra sampa no fim de semana. fica uns sete dias por lá. e eu fico por aqui tocando o barco, mas claro que com uma vontade imensa de ir junto matar tanta saudade da pauliceia. nos últimos dias antes da mudança, pensei muito sobre saudade. e cheguei à conclusão de que depois de sair de casa e adotar uma nova cidade as pessoas têm a alma carimbada com uma tatuagem que laser nenhum consegue apagar. estamos, portanto,  condenados a sentir saudade. é possível perceber um leve pendor do ombro esquerdo das pessoas de alma tatuada...

e ter saudade de são paulo é mais que desejar passear no ibirapuera ou no villa-lobos, abrir o guia da folha e fazer uma agenda de dezenas de programas impossíveis de cumprir - mas que nos fazia tão bem saber que estavam ali, à mão... a fartura de shows, filmes, programinhas infantis, exposições...

é mais do que querer caminhar pela paulista (a pé é melhor do que de carro!), de comprar flores do campo baratinhas e lindas na feira - e, claro!, comer pastel!

é mais do que fechar os olhos e ver a nossa casinha da vila, de bonecas, de amigos e de festa, de aconchego e tantos dias azuis...

agorinha mesmo, após ver umas fotos que estavam guardadas, quase esquecidas, vemos que ter saudade de são paulo é sobretudo querer muito abraçar os amigos amados que ganhamos lá. e que não são poucos. hoje foi o dia de lembrar um deles e também da mágica de sua casa, cheia de cores e de instrumentos musicais, dezenas de pequenas lembranças de lugares e de pessoas, paredes forradas de ícones e o velho marley a nos olhar sob a fumaça... uma casa com cheiro de incenso e uma paz imensa estampada na cara de anjo de Roni, o cachorro que nos olha nos olhos e fala à alma...

vendo as fotos lembramos de um dia qualquer na casa de doc, o nosso querido otávio, em que ele fez fotos de família, nós 4 no sofá fazendo poses pra sua câmera. lembro que foi um dia qualquer de janeiro de 2009 em que provavelmente passamos - antes ou depois - na doceria brigadeiro, um sobrado cheio de delícias ali quase ao lado da casa dele.

e este foi só um dos tantos 'um dia qualquer na cada de otávio'. vivemos juntos muitos outros, em cafés da manhã de sábado no jardim, sessões de reggaes e outros sons que só ele tem, manhãs de trabalho regadas a chá, celebrações, ensaios e encontros de quinta... e é isso que nos dá saudade agora.

é isso aí, doc,
fá lemos...

abrax,
senhor cumpadi,

dona cumadi
e seus pequeninos




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A bandida, o príncipe e a bailarina


O carnaval já vai longe, mas não podemos deixar de registrar o primeiro encontro de pedro & clarisse com a bandida. para quem não é iniciado no assunto, a bandida é uma bandinha de carnaval que nasceu na contramão das folias fabricadas. Com seus metais e uma galera pequena indo atrás das marchinhas pelo centro da cidade, começou a ser a musa do carnaval de rua há uns 10 anos. 

A banda tem por símbolo uma mulher liberadíssima, representada por uma grande boneca, obra da artista plástica marlene barros, um luxo só que ganhou a admiração especial das crianças. em suas fantasias de piratas, princesas, havaianas e malandros, os pequenos tomaram conta da folia e viraram fieis seguidores da banda.



O caso é que neste ano da graça de 2010 a bandida saiu do centro e foi tocar em outra freguesia. partiu para a avenida litorânea, na praia de são marcos, templo do carnaval oficial com seus axés e trios. a velha guarda não ficou lá muito atraída pelo novo endereço e foi atrás de outros carnavais.

E então os velhos bandidos maestros da banda atenderam aos apelos dos paralelepípedos e fizeram um revival dos bons tempos da bandida na fonte do ribeirão. da concentração diante das carrancas da fonte, a banda seguiu até o laborarte, centro de arte onde todo ano é realizado o tradicional carnaval de segunda.



Nem é preciso dizer que a bailarina e o príncipe árabe adoraram o carnaval de rua da cidade. mas eu digo. e mostro!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

história de passarinho


dia desses aninha descobriu um ninho de rolinha no telhado do quintal. mais que isso, descobriu que havia lá dentro um filhote, para quem a mamãe rolinha dispensava os maiores cuidados.

mas qual não foi a surpresa de aninha ao ver, na lavanderia, o filhotinho caminhando meio torto (terá caído do ninho o anjo cinzento e tão frágil?). logo sua mamãe veio tomar conta da cria. ana tratou de espalhar pelo chão flocos de milho para alimentar o pequenino passarinho. o banquete também serviu à mamãe, que o visitou várias vezes durante aquele dia. ao lado da máquina de lavar, os dois se reconheciam e trocavam carinhos. e nós, cúmplices da história que eles contavam, cuidávamos de não fazer barulho e andar a passos lentos, sem nos aproximarmos muito, para não desfazer a cena.

a certa hora da tarde, ana se impacientou com a aflição que julgou viver o pequeno pássaro e o pegou nas mãos, com todo o cuidado, para levá-lo a um galho seguro do pé de ata, logo ali perto. sua ideia era dar ao filhote a chance de aprender a voar em um ambiente mais próximo de sua natureza. no meio do caminho, mamãe rolinha a surpreendeu. e como toda mãe, defendeu sua cria tentanto atacar ana. ora, o que essa "gigante" quer com meu filhote? ana entendeu de imediato a angústia da mãe - que de pássaro virou ali mesmo uma pequena onça - e delicadamente colocou o passarinho ao pé da árvore.

ficaram ali um bom tempo, tempo suficiente para que nós nos esquecêssemos deles. até que hoje, meio da manhã, enquanto ana levava pedro para o banho no chuveiro de fora da casa, a história se fez diante de nossos olhos. e só vimos porque de alguma maneira os olhos de ana viram e registraram o exato momento em que nosso bichinho ensaiou seu primeiro voo. numa fração de segundos ela nos avisou e também pude ver o pequeno trajeto entre o pé de ata e o telhado onde foi feito o ninho. cerca de 5 metros debaixo do azul de um dia azul da ilha. impossível registrar em máquina a beleza da performance, entre desajeitada e perfeita. como os primeiros passos que pedro e clarisse ensaiaram um dia pela casa, pernas tortas e uma fralda fofa para amortecer os tombos.

um voo rápido e ao mesmo tempo lento. lindo rastro de luz silencioso. beleza de presente para um dia inteiro, uma vida toda para lembrar daquela manhã qualquer num dia de fevereiro em que o nosso passarinho criou asas.

cansado, ficou ali no telhado, como quem experimenta a primeira paisagem de sua vida de pássaro. mamãe ao lado, entre vigilante e orgulhosa. e eu corri para pegar a câmera e registrar, cerimoniosamente, respeitosamente, sem querer perturbar a ternura de pássaro que tinha diante dos olhos.

a cena do voo registrei para sempre no filme da retina. o que tenho para mostrar aqui é o momento de descanso após um grande, talvez o maior esforço deste pequeno pássaro que, acredito, vá fazer morada entre o nosso telhado e o pé de ata. ele e sua mãe juntos, observando o mundo. ele, pequenino com seu bico longo que exibe como uma espada de aço luminoso contra o sol. ela, toda mãe em seu corpo macio que se oferece para o carinho e o aconchego.

nem sei se poderei reconhecê-lo daqui a pouco, quando não for mais tão pequenino. o que não será problema. assim, sempre que olharmos uma rolinha entre nós pensaremos que aquela é o nosso pequeno pássaro cinza que nesta manhã fez um voo azul e traçou uma linha meio torta e bamba, uma linha amarelo ouro fazendo contraste com o verde da hera que pinta o muro do nosso quintal.

agora o dia segue e nosso passarinho talvez voe por aí enquanto conto sua história. e penso agora que, embora eu o tenha preso nas imagens que roubei ali no telhado, ele voa além de mim e de nós e, livre, desenha outras linhas pelo céu, fazendo arco-íris de cores que minha máquinha jamais poderá captar.

agora só me resta uma palavra para encerrar esta história da rolinha que nasceu entre nós:

obrigada!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Belle Epoque - Celso Borges e os Restos Inúteis






Celso lançou o livro novo no dia 4, uma quinta-feira, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho. A foto é do show, depois da sessão de autógrafos, dentro do Cine Praia Grande. Com ele e Reuben (guitarra), Bruno (baixo), Lucap (violão e efeitos sonoros, além do vídeo na tela grande) e Grolli (bateria).

Hall do Odylo lotado. Cinema idem. Teve gente que nem conseguiu entrar. Calor imenso. Mas quem ficou, mesmo suado, saiu de alma lavada. As palavras foram ditas. A música aconteceu. Edição única. O guitarrista já voltou pra Sampa. Há fotos, imagens, registros sonoros. Mas nada é maior do que ter visto ali. E eu vi. Eu e mais uns cem. E só.

Todo e qualquer falar é pouco. Dizer nem vale. Só quem viu, sabe. Só quem tava lá provou Belle Epoque no banquete de Celso e os restos inúteis. O que precisa ter utilidade é garfo, faca, colher... Poesia, música, cinema são coisas inúteis. Inutilidades de outra real grandeza. De outra real necessidade.

O livro tá na rua. No Poeme-se (Praia Grande), na Vozes e na Athenas.
Também pelo email cbpoema@uol.com.br
Poemas de Celso Borges e projeto gráfico de Andréa Pedro.

Uma palhinha:

VEXAME

A luz ilumina o mágico no centro do palco
O público atento espera a surpresa de sempre
E prepara o aplauso
O tempo passa e o mágico sua sob o susto do inesperado
O silêncio quase eterno denuncia o constrangimento
O coelho não sai da cartola